24 de dez. de 2006

O Autoritarismo da "Opinião Pública"




O "jornalismo", em pindorama, é o que há de mais limítrofe e perverso para um país em que a democracia é apreciada somente como uma "coisa exótica" e que por isso mesmo merece ser mencionada porém nunca praticada. A base de sustentação dos "argumentos" da "grande mídia" é contar com a desinformação da maioria da população que, há séculos, é usurpada dos seus direitos fundamentais, a começar pelo acesso à informação, direito importante para a constituição de uma democracia autêntica e concreta, portanto, não apenas formal. Na verdade, não poderia haver outro "fundamento" para a "mídia oligárquica" senão contar com a desinformação, pois, do contrário, sua inexistência seria quase uma necessidade histórica, já que inteligência e ética são binômios ausentes dos seus discursos. Daí que, em pindorama, emerge um novo tipo de "jornalismo", exercido por meio de um autoritarismo subjetivista, "neutro", e que afirma ser os fatos algo irrelevante; assim, o importante é a pirotecnia que se edifica em torno dos fatos, esses nunca almejados, mas sim criados por "notícias" redigidas num espaço onde afirma que tudo não passa de uma mera questão de ponto de vista, mesmo que inúmeras vezes os "inconvenientes" fatos contrariem as falácias midiáticas chamadas, histericamente e em coro, de "opinião pública". Além de contar com o autoritarismo subjetivista e com a desinformação, é necessário acrescentar ainda mais um elemento à prática discursiva da "grande mídia" tupiniquim: é que ela só consegue apreender a realidade social por meio de dicotomias e de maniqueísmos. Daí a “crítica” a toda política que tenha como escopo impor limites a “liberdade de expressão”, interpretada vulgarmente por jornalecos (como a Folha de São Paulo, Estadão, Globo e a mais tosca entre todos a Veja) como sendo o direito de “expressar” o que bem compreender, de acusar sem provas, ou melhor, de primeiro acusar e depois ir à procura das provas; ou de criar os fatos mesmo sem eles existirem, e depois de tudo isso chamar essas “expressões” de “opinião pública”, neutra e imparcial. Ora, querer estabelecer algumas medidas preventivas ao jornalismo, diga-se de passagem, de péssima qualidade, não significa necessariamente censurar o direito de expor idéias; ao contrário, se conduzidas dentro dos princípios democráticos, tais medidas limitativas contribuirão para a lenta constituição de valores e práticas democráticas em pindorama. E é justamente isso que não pretendem os “neutros”, já que querem continuar a praticar uma espécie de “neutralidade autoritária”, isto é, “direi sempre o que desejo mesmo que nada de fato me sustente, pois o mundo é o que eu vejo e nada mais; e depois chamarei isso de opinião pública me colocando, desse modo, acima do bem e do mal, apenas interessado em salvar a “sociedade” da opressão, etc. A complexidade da temática, como se sabe, não cabe dentro dessas afirmações limitadas, interessadas, como sempre, a atender as vontades de uma minoria autoritária, privatista e burra. É necessário realizar um amplo debate em torno da liberdade de imprensa e, antes de qualquer resultado, afirmar que não aceito ser tolhido do meu direito de ser sujeito da minha opinião, escancaradamente solapada no conceito de “opinião pública”. Desse modo, peço agora o meu direito de resposta a Veja, a Folha de São Paulo, ao Estadão e ao “jornalismo” da Globo, que não se entendem lá muito bem mas na hora de bater sistematicamente se unem tão solidamente que dissimulam uma suposta harmonia.

8 de dez. de 2006

Desigualdade social: uma obsessão da esquerda?

Lembro-me que era muito freqüente, à época dos calorosos debates universitários, certos indivíduos afirmarem, de forma explícita ou não, ser a luta de classes uma Criação de Karl Marx!!! A desigualdade social, desse modo, não existiria antes do filósofo alemão e que, graças à sua imaginação, tornara-se real. Nesse tipo de "crítica", a preocupação com a "pobreza" emerge então como "coisa de gente da esquerda, de comunistas ou de subversivos. A miséria não se apresenta aqui como um imperativo objetivo - é um capricho subjetivo. Ao invés da diferença ideológica fundamentar-se na estratégia que cada ação e pensamento pode tomar diante da desigualdade social, coloca-se a distinção em se saber se ela existe ou não: ser de esquerda é, portanto, "achar" que a desigualdade é uma fato e ser de direita ao contrário - ou no máximo admiti-la, porém como um dado a mais entre tantos outros que a burocracia estatal e a "sociedade civil" devem "administrar”.Tudo isso quando se considera a concretude dos termos "direita" e "esquerda", pois, de acordo com certos "pós-modernos", essas categorias analíticas não são mais válidas. É como se os conflitos desaparecessem pelo simples fato de não mais se fazer uso dos termos "direita" e "esquerda", mesmo que no cotidiano político os indivíduos ainda se valem desse binômio para medir suas ações e reflexões, constituindo, assim, subjetividades. Infere daqui que tudo se converge ou que todas as ações políticas podem ser interpretadas como sendo "progressistas" ou "conservadoras", "modernas" ou "atrasadas", como prefere um certo jornaleco de uma incomensurável péssima qualidade. Sabemos perfeitamente que a esquerda é impregnada de maniqueísmos, teleologismos, messianismos, tal como (e principalmente) a direita. Sem dúvida, o pensamento e a ação requerem ser constantemente submetidos a um exame crítico. O problema é que em determinados rincões do mundo, e com mais força em Pindorama, a “crítica” beira ao vulgarismo e a periculosidade política. No Brasil, não se critica alguns oportunistas sem-terra, mas a própria idéia de reforma agrária; não se discute o racismo, mas o mérito; não se critica certos procedimentos de ações ditas de esquerdas, mas os seus objetivos, procurando assim desqualificá-los a partir de algum fundamento moralista mesmo que certas reivindicações dos “subversivos” sejam de interesse nacional, como é, por exemplo, a erradicação ou no mínimo a diminuição considerável da desigualdade social. Quando determinados intelectuais gritaram ao mundo que o capitalismo “venceu” o “comunismo”, o que temos não é uma crítica ao comunismo mas a idéia de transformação e todo indivíduo que ainda desejá-la é considerado arcaico, pois está marchando contra o ritmo “necessário” da História – não pode existir vida fora do mercado, dizem os apóstolos neoliberais. Ser realista, portanto, é se adequar as coisas tal como elas são e ser utópico (termo utilizado de forma pejorativa) é querer mudar o que não pode ser mudado. Temos infinidades de asneiras perigosas e o nosso presidente da República, Luis Inácio Lula da Silva, veio nos brindar com mais um besteirol perverso. Agora a miséria não é mais um acidente, uma fatalidade, uma Criação de Marx, é fruto da imaginação que brota num certo período da nossa vida, mais precisamente antes dos 60 anos e com um leve odor de mofo. Nosso presidente logicamente sabe que a miséria não é imaginosa, por outro lado isso não nos impede de lhe agradecer pela contribuição de acentuar ainda mais as confusões maldosas tão propaladas por uma elite estúpida, burra e sedenta por promiscuidades. As consciências mutiladas, espalhadas por todo esse país, esperam muito do presidente, numa época importante da nossa história política; esperam esses homens e mulheres, no mínimo mais coragem, a começar pela simples critica a alguns petistas por concordarem com a recente pornografia ocorrida no Congresso: a tentativa de se aumentar os salários de deputados e senadores de 12 mil reais para 24 mil reais!!! Não acabou: os ministros do STF já ganham esse valor, pois é constitucional!! Após a toda essa sacanagem secular dizem alguns: o povo brasileiro não tem enraizado em si os princípios democráticos, não tem moral, é passivo, é gado, não pode organizar-se (num país onde quem luta por direitos legais é considerado subversivo) sem ser tutelados, etc. Que bom! Ah, se não existisse os miseráveis a miséria desapareceria. E você presidente, concorda ser o problema do Brasil os miseráveis?